A Casa de Visconde de Pirajá, 206
Minha Alma ainda no Espaço, de vez em quando, descia à Terra, para caminhar pela casa grande de Voluntários da Pátria.
Alguém, sem muito talento, tocava piano, numa composição fácil de tocar... as notas se misturavam aos gritos dos marrecos de Pequim, os guinchos dos pequenos macacos, os trinados
dos pássaros nos grandes viveiros...
Minha Alma percorria a casa inteira... tudo ali eram Almas e Corpos... e lembrança com saudade...
Numa sala mobilhada à francesa, no meio de uma moldura em madeira
branca da Europa dourada, estava um quadro protegido por vidro, pois em
seu papel para aquarela, fora retratada a Rainha Maria Antonieta de
França, trabalho de arte em pastel, que é feito com pó colorido, suavemente, e muito dificil de fazer, com o dedo sobre o papel-tela...vai colocando a
figura que está em sua imaginação... ali, naquele quadro emoldurado
e envidraçado, se assemelhando à aquarela, estava o rosto da Rainha
Maria Antonieta sem a cabeleira ornamental. Desde criança, eu ouvia: -
É Maria Antonieta, sem a cabeleira...
A vida trágica dessa rainha me parecia tão pesada de sofrimento, que jamais tive coragem de ver o filme que reconstituia sua terrivel passagem pela Terra...
Quando eu me sentava no sofá forrado com Aubusson de seda, para
ouvir meu pai tocar Chopin e Liszt, ficava de frente para o quadro de
Maria Antonieta e a fitava com a imaginação
acompanhada pela música...
Depois eu subia pela escada de madeira, para o segundo andar da casa.... a música ia morrendo, o bonde passava na rua com seu trepidar de ferros e os toques de campainha dos que
iam saltar logo adiante.... meu pai, funcionario do Banco do Brasil, dormia cedo, e era dos relatos de minha mãe, da grande casa em que fora criada na rua Voluntários da Pátria, que
minha imaginação escorava meus sonhos...
Nunca esqueci o retrato de Maria Antonieta e se alguém souber onde ele está, eu gostaria de saber...
clarisse
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